quarta-feira, 27 de junho de 2012

Horizonte

Partimos rumo ao desconhecido. Quando abandonamos terra, tornamo-nos numa outra pessoa em nós próprios. Assumimos uma outra identidade. Aquela salgada, que o meio assim o exige e que nos molda. Os olhos estão postos no horizonte. Mas levamos connosco todos aqueles que ficaram para trás. O significado da palavra família ganha outros contornos. Afinal, nestes singelos 23 metros de madeira passamos mais tempo do que com aqueles a que convencionalmente chamamos família. No entanto, embalados pela melodia da maresia, aqui também há família. Laços fortes que nos unem. Sorrisos que só têm valor quando se valorizam os arrufos. Quando alguém tem a coragem de reprimir, de ser directo, olhos nos olhos, traduz-se em respeito e preocupação. Aqui há família. Aqui há fenómenos de rara beleza humana.
Rara beleza



(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Pingar

Saímos à procura do ouro do mês de Junho. Os Santos Populares pedem sardinha assada. Nós temos de a encontrar. Mas não se pense que a tarefa é fácil. Fomos até à Barra de Setúbal. Nada. Mudámos de rumo até à Barra de Lisboa. Nada. Ainda para mais, a Lua não ajuda à nossa demanda. Talvez com a Lua Nova, na próxima semana, ela, a sardinha, dê o ar da sua graça. Sabemos que não anda longe, mas a sardinha é conhecida pela sua astúcia e rapidez de fuga aquando do cerco. Talvez amanhã volte a pingar na rede e no pão. Esse é o nosso desejo. É nisso que acreditamos sempre que saímos do porto. Amanhã é outro dia.

Procura



(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

sábado, 9 de junho de 2012

Desconhecido

E ali estava ele. Tranquilo. De olhos postos no Mar, pensava no que estava para além do horizonte. A incógnita mantinha-se. O desejo de avançar aumentava. Observava, reflectia e aquele apelo insistia em chamar por ele. O desconhecido abanava-o, fazia-o sentir-se vivo e puxava-lhe pela mão. Resistiu. Certo dia não aguentou mais. Lançou-se nas asas do destino. Aceitou de bom grado o sal no corpo e o vento no rosto. Entregou-se ao Mar de corpo e alma. Passou a fazer parte dele. Aprendeu com ele. Ganhou forças com ele. Até hoje nunca mais o deixou.
 
Desejo



(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Visita

Sesimbra fica para trás. O dia também. A traineira Estrela do Mar regressa a Sines. O Mar não tem fronteiras. Já fomos visitas e neste dia fomos visitados. Sabemos que o peixe manda. O pescador anda sempre no seu encalço. O curioso é que a frota de Sesimbra e a de Sines pescaram, lado a lado, junto à Barra de Lisboa, e ainda com a companhia da traineira Segredos do Mar, de Setúbal. Se contarmos as milhas percorridas por todas estas traineiras, o resultado vai dar muitos zeros à direita. Nem falo em fazer as contas ao gasóleo… O peixe manda. O pescador segue o seu destino.
Serra e Mar


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