quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A espera

Do alto da grua, o gancho comove-se. Cerra os olhos e abraça os últimos raios de sol. No pensamento, a dúvida de quando poderá soltar forças e resgatar o peixe para bordo. Nas águas procura respostas. No mar, levantado à passagem da traineira, lança as suas expectativas. O tempo passa e o dia solta o último fôlego, procurando contrariar o destino inadiável. E ali continua ele, o gancho, com uma panorâmica de tribuna, à espera. A traineira avança, mas o gancho, descansado, nunca descansa. Não desespera, aguenta, paciente. Já a noite tinha caído, quando ele, o gancho, teve resposta a todas as suas interrogações.

Gancho

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Saudações

Mar imenso, mas não tão imenso. Quando o peixe dita as regras, há que procurá-lo e as distâncias encurtam. As zonas de pesca tornam-se pequenas, demasiado pequenas. Muitas são as vezes em que nos cruzamos com outras traineiras da frota de Sesimbra. Perto, borda com borda, à distância de reconhecer um olhar e uma expressão. Nessas ocasiões, as saudações saem engalanadas das mais diversas formas. Há uma mão no ar, um boné que sai da cabeça, um esbracejar. Também há cordiais palavras, outras com uma malícia acutilante e ainda aquelas que ganham vida nas segundas intenções, mas sempre com o conhecido e reconhecido respeito entre homens do mesmo ofício.

Perto

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Na costa

Dei por mim a recordar fotografias a preto e branco, gravuras que sobreviveram aos séculos, estórias que me contaram, memórias das armações valencianas, lembranças de vidas que não vivi. Corriam céleres as areias do tempo e a nossa costa respirava prosperidade. Estávamos no século XIX. As armações marcavam o pulsar da vila, encolhida no vale, que só se espraiava rumo ao Mar. Ao largo do Bico da Agulha, ali a Leste, deslumbradas com a beleza da Enseada da Cova, as redes fizeram-se ao Mar, com vista privilegiada sobre a vila de Sesimbra. Por momentos pensei que estivesse noutros tempos. Fiquei feliz. Com o desenrolar do lance, a rede partiu e a cavala fugiu. Regressei à realidade. Ao aqui e agora. Mesmo assim, valeu a pena recordar.

Sesimbra à vista

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Novo

A primeira pesca do ano decidiu romancear com um bom augúrio. Uma boa captura de besugo – massacote, como é conhecido por estas paragens e com quem nem sequer o corrector ortográfico consegue lidar – bafejou a nossa Companha e trouxe sorrisos aos rostos enegrecidos pelo sol e pelo sal. Que modo de começar o ano! A Natureza estendeu a passadeira vermelha e o Mar fez as honras da casa. Agradecemos. Continuamos. Este é um sinal que nos fortalece e que nos faz acreditar – ainda mais – de que este ano poderá ser um bom ano. Contra a maré negativista e asfixiante que nos chega bem lá detrás das secretárias e das estatísticas, aqui cremos que, com a perseverança e o esforço do trabalho, dia após dia, todos os dias, vamos conseguir.

Olhos nos olhos



(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)